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Sua Smart TV está espiando? Entenda os riscos à privacidade

O Center for Digital Democracy (CDD) divulgou um relatório que acusa a indústria de streaming e fabricantes de Smart TVs de desenvolverem um “sistema de vigilância” que compromete a privacidade e proteção do consumidor. O documento foi enviado à Federal Trade Commission (FTC) e outros órgãos reguladores, pedindo investigações e regulamentação mais rígida sobre essas práticas.

O relatório intitulado How TV Watches Us: Commercial Surveillance in the Streaming Era (“Como a TV Nos Observa: Vigilância Comercial na Era do Streaming”) descreve como as TVs conectadas (CTVs) se tornaram um “pesadelo de privacidade”.

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Relatório do CDD denuncia coleta de dados por TVs conectadas e streaming. (Imagem: CDD)

Jeffrey Chester, diretor executivo da CDD, disse ao Ars Technica que o uso de técnicas de rastreamento para agradar anunciantes está colocando as famílias em risco, pois dados sensíveis, como informações sobre saúde, interesses políticos e até mesmo crianças, estão sendo coletados sem transparência adequada.

10 formas como sua Smart TV pode coletar dados

Aqui estão 10 maneiras pelas quais as TVs conectadas (CTVs) e os serviços de streaming coletam e espionam os dados dos usuários, conforme descrito no relatório:

  1. Rastreamento de comportamento: as CTVs monitoram o que os usuários assistem, seus hábitos de visualização e interações com anúncios, criando perfis detalhados sobre os indivíduos.
  2. Reconhecimento Automático de Conteúdo (ACR): muitas Smart TVs usam ACR para monitorar o que está sendo exibido na tela, incluindo conteúdo de fontes não streaming, e enviam esses dados para terceiros.
  3. Gráficos de identidade: esses gráficos combinam diferentes pontos de dados, como cookies e IDs de dispositivos, para rastrear e identificar usuários em vários dispositivos e plataformas online.
  4. Publicidade personalizada: os dados coletados são usados para servir anúncios altamente direcionados, personalizados por fatores como localização, uso de dispositivos e até mesmo respostas emocionais ao conteúdo.
  5. Inteligência artificial generativa: as empresas de CTV utilizam IA para criar várias versões de anúncios e conteúdos com base nos dados individuais do usuário, como alterar a roupa dos atores ou o posicionamento de produtos.
  6. Parcerias com terceiros: os dados são compartilhados com empresas como corretores de dados, anunciantes e empresas de tecnologia, permitindo um rastreamento e marketing extensivos entre plataformas.
  7. Dados de localização e dispositivo: informações sobre a localização física do usuário e outros dispositivos conectados na residência são coletadas e usadas para direcionar anúncios de forma mais eficaz.
  8. Integração de compras: algumas plataformas vinculam os dados dos usuários a comportamentos de compra, permitindo que os usuários façam compras diretamente a partir de anúncios ou conteúdos que estão assistindo.
  9. Dados de saúde e financeiros: dados sensíveis, incluindo informações de saúde e financeiras, são usados para direcionar anúncios aos usuários, especialmente em setores como farmacêuticos.
  10. Perfilamento político e racial: os dados de CTV são usados para criar perfis de usuários com base em raça ou orientação política, permitindo que os anunciantes ou campanhas políticas direcionem anúncios com base nessas características.
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Smart TVs podem coletar dados de usuários de diferentes formas, mostra relatório do CDD. (Imagem: ronstik / iStock)

Publicidade alvo e políticas de privacidade enganosas

Além das taxas crescentes de assinatura de streaming, o relatório destaca o preço elevado da expansão desse setor, que criou um sistema de marketing com “capacidades de vigilância e manipulação sem precedentes”.

As políticas de privacidade, descritas como muitas vezes enganosas, não esclarecem como os dados são coletados e usados, tornando promessas de privacidade praticamente inúteis.

Inteligência artificial e publicidade direcionada

Um ponto alarmante levantado pelo CDD é o uso da inteligência artificial generativa para otimizar os anúncios direcionados. Empresas como a Amazon e a TripleLift estão trabalhando em tecnologias que inserem produtos em cenas de séries e filmes em tempo real, sem interromper a experiência do usuário.

Além disso, a IA pode criar diferentes versões de um mesmo anúncio, personalizando aspectos como roupas dos atores e localizações das lojas, gerando milhares de variações instantaneamente.

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Uso de dados nas Smart TVs e discriminação

O relatório também alerta para o uso de dados de saúde na publicidade direcionada, especialmente em países como os EUA, onde a publicidade direta de produtos farmacêuticos é permitida. Segundo o CDD, a capacidade de segmentar pessoas específicas com base em seus dados de saúde gera preocupações sobre desinformação e práticas enganosas.

A coleta extensiva de dados pelas Smart TVs também tem implicações políticas, permitindo que campanhas políticas usem esses dados para criar anúncios altamente personalizados, alimentando a polarização e desinformação sem qualquer tipo de transparência ou supervisão.

Outro problema destacado é a segmentação de minorias étnicas, como afro-americanos e hispânicos, considerados alvos lucrativos devido à rápida adoção de novos serviços digitais e lealdade a marcas. Chester ressaltou o risco de impactos discriminatórios decorrentes da coleta de dados étnicos para segmentação publicitária, inclusive em campanhas políticas.

Chamado por mais regulamentação

O CDD pediu que a FTC e a FCC investiguem as práticas da indústria de TVs conectadas, considerando questões de concorrência e proteção ao consumidor.

Além disso, solicitou que reguladores antitruste analisem profundamente empresas como Amazon, Comcast e Disney para promover diversidade e competitividade no mercado de TVs conectadas.

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