Em meio à efervescência tecnológica do SXSW 2025, um painel chamou a atenção para uma crescente e preocupante realidade: a fragilidade da nossa identidade digital em tempos de crise climática. Yasodara Cordova, pesquisadora da Unico, e Fabiola Maurice, líder do The Guardian Project, uniram forças para alertar sobre os perigos que espreitam nos momentos de vulnerabilidade, quando desastres naturais expõem nossos dados e abrem caminho para golpes e exploração.
Yasodara Cordova: a voz da consciência digital
Yasodara, em sua terceira participação no SXSW, não poupou palavras ao descrever o “efeito suspensão” que os desastres naturais provocam na comunicação com autoridades e serviços essenciais. “As pessoas estão emocionalmente vulneráveis e começam a confiar em estranhos”, alertou a especialista, com a experiência de quem já ouviu relatos dramáticos de vítimas isoladas por dias ou semanas.
Ela desmistificou o conceito de identidade digital, mostrando como ela se tornou essencial para acessar serviços e exercer direitos, mesmo quando não estamos fisicamente presentes. No entanto, essa conveniência tem um preço: a exposição de dados confidenciais a criminosos cibernéticos, que aproveitam o caos para aplicar golpes e fraudes.
Fabiola Maurice: a tecnologia como escudo protetor
Fabiola Maurice, por sua vez, trouxe uma perspectiva prática e inspiradora. À frente do The Guardian Project, ela lidera o desenvolvimento de ferramentas de código aberto que protegem a privacidade e a segurança da comunicação em áreas afetadas por desastres. A “Butter Box”, um pequeno computador de mão alimentado por energia solar, é um exemplo concreto dessa abordagem: uma rede de dados fechada que garante a privacidade e a segurança dos usuários em momentos críticos.
Com uma linguagem acessível e um entusiasmo contagiante, Fabiola defendeu a importância de capacitar as comunidades com tecnologia e conhecimento antes que os desastres aconteçam. “Precisamos ter certeza de que essas ferramentas sejam amigáveis, intuitivas e garantam privacidade e segurança a usuários que já estão vulneráveis”, ressaltou.
Oportunistas digitais à espreita
Os números apresentados por Yasodara são um choque de realidade: os dez maiores desastres naturais de 2024 causaram perdas econômicas de US$ 417 bilhões, incluindo US$ 154 bilhões em indenizações de seguros e golpes digitais. Mas o que mais impressiona é a capacidade dos criminosos de se adaptarem rapidamente às novas vulnerabilidades, explorando a desinformação e a fragilidade emocional das vítimas.
Yasodara alertou, ainda, para o risco que mulheres vítimas de violência doméstica correm em situações de desastre, com seus dados acessados por agressores por meio de bancos de dados comprometidos. “É por isso que a privacidade é tão importante”, enfatizou a especialista, com a convicção de quem luta para proteger os direitos das pessoas mais vulneráveis.
Lições do SXSW 2025: privacidade é prioridade
A apresentação de Yasodara Cordova e Fabiola Maurice no SXSW 2025 deixou claro que a proteção da identidade digital em tempos de crise climática não é apenas uma questão técnica, mas um imperativo ético e social. É preciso investir em soluções tecnológicas inovadoras, promover a educação em privacidade e segurança cibernética e fortalecer a colaboração entre governos, empresas e a sociedade civil.
O alerta está dado: a próxima vez que um desastre natural atingir, não seremos apenas vítimas da fúria da natureza, mas também de oportunistas digitais à espreita. A hora de agir é agora, antes que seja tarde demais.
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